Agro
Agricultores de Palmeira dos Índios colaboram com pesquisa que busca fortalecer conservação de umbu-cajazeiras
Experimentos conduzidos pela Embrapa, em Alagoas, buscam criar estratégias para fortalecer a conservação e o uso sustentável das plantas
Agricultores e agricultoras familiares da região de Palmeira dos Índios, em Alagoas, estão contribuindo para a conservação da umbu-cajazeira (Spondias spp.). A árvore frutífera nativa do Semiárido brasileiro pertence à família Anacardiácea e produz o umbu-cajá, fruta com grande importância socioeconômica no Nordeste, muito usada na elaboração, principalmente, de sucos, geleias e sorvetes.
Por meio de uma pesquisa participativa coordenada pela Embrapa Alimentos e Territórios (Maceió, AL), focada em conservar os recursos genéticos da planta, os agricultores estão colaborando com os trabalhos de campo. Os pesquisadores instalaram experimentos em três áreas produtivas para avaliar as características das plantas, a qualidade dos frutos e estimar, ao longo dos anos, a produtividade delas.
Para apoiar o manejo e a coleta dos dados em nível experimental, a equipe técnica da Embrapa desenvolveu uma solução tecnológica simples e instalou em campo um modelo que permite mensurar com segurança a colheita dos frutos nos quatro quadrantes das árvores selecionadas. “Durante os quatro meses de maior produção da safra, entre maio e agosto, os agricultores parceiros vão contar e pesar os frutos semanalmente. A ideia é que isso seja feito pelos próximos três anos”, conta a pesquisadora Semíramis Ramos, líder da pesquisa.
Os dados serão anotados em tabelas e repassados aos pesquisadores para análise. Com isso, será possível avaliar o potencial genético das plantas, cuja conservação está ameaçada no bioma, além de estimar a produtividade.
Guardiões das espécies
“A agricultura familiar tem uma importância muito grande na conservação dos recursos genéticos, em especial quando se trata de fruteiras. Várias espécies de fruteiras em todo o País, em especial na Região Nordeste, são preservadas graças ao uso pelos agricultores”, explica o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Ricardo Elesbão Alves. “Como essas plantas são fonte de recursos para os agricultores, não só de alimentação mas financeiros, eles são os próprios guardiões e protetores dessas espécies”, afirma.
No Agreste alagoano, uma das principais regiões de presença nativa de umbu-cajazeiras, há variabilidade entre plantas e no tamanho e qualidade dos frutos. Grande parte dos frutos umbu-cajá que se encontram nas feiras ou em produtos processados é de origem extrativista. As áreas também variam no tamanho e na produtividade.
“Aqui na nossa região de Palmeira dos Índios, ela é uma árvore centenária e vários sítios da nossa cidade possuem essa planta, que dá frutos em abundância e beneficia várias famílias”, diz o agricultor Edson Soares da Silva. “É uma árvore que dá renda para os pequenos produtores do município”, enfatiza.
Segundo a agricultora Maria de Fátima Santos da Rocha, o umbu-cajá já trouxe muita prosperidade para a sua família. “É uma fruta que gera renda, sem ter muita despesa”, aponta. A expectativa dela é ter uma fábrica na região para processamento da produção local e criação de empregos.
“Um dos resultados do projeto é que a gente depois tenha informações suficientes para fornecer informações para embasar a elaboração de políticas públicas que possam fortalecer tanto a conservação quanto o amplo uso dessas plantas na região-alvo em que estamos trabalhando. É fundamental que as plantas, que são de importância para a geração de renda anual dos agricultores familiares, sejam mantidas em campo”, reforça a pesquisadora.
Mapeamento e diagnóstico
Além dessa análise, durante três anos, a equipe visitou e mapeou mais de 60 áreas produtoras. Os mapas, o diagnóstico realizado junto aos agricultores e as informações coletadas nos experimentos vão contribuir para a identificação das fragilidades do sistema de produção e das necessidades e prioridades apontadas pelos agricultores para o fortalecimento da conservação e da exploração econômica da fruteira na região. Além disso, os dados mensurados e a seleção de plantas mais produtivas vão auxiliar nas próximas atividades de pesquisa.
Amostras de solo e das folhas também foram coletadas. O objetivo é fazer o diagnóstico nutricional das plantas de umbu-cajazeiras para correlacionar a prováveis deficiências ou não das plantas, de acordo com o pesquisador da Embrapa João Gomes da Costa. A pesquisa vai permitir, ainda, compreender como as plantas se desenvolvem sob as condições do Agreste alagoano e direcionar estratégias para a conservação e uso sustentável das plantas, visando fortalecer a produção e a comercialização das frutas.
“Vamos ter informações de plantas individuais com relação às características das plantas e dos frutos, ao período de floração e à estimativa de produção. E o retorno dessa informação para os agricultores vai ser muito importante para eles terem ideia da capacidade individual dessas plantas. No caso da Embrapa, como a gente vai seguir com algumas atividades de pesquisa, os dados vão servir para identificar quais plantas têm características de interesse para serem matrizes para posterior produção de mudas, por exemplo. Vale lembrar que não se deve produzir mudas sem conhecer as características das plantas que dão origem a estas mudas. Não se recomenda, também, a destruição total de plantas adultas e produtivas para que sejam fonte de material propagativo”, completa Semíramis Ramos.
Todas as atividades integram a pesquisa em rede “Conservação in situ/on farm de recursos genéticos vegetais e interação com a conservação ex situ”, liderada pela pesquisadora Marília Lobo Burle, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF). Iniciados em junho de 2021, os trabalhos vão até janeiro de 2026 e envolvem ações em vários estados nordestinos, com a participação de diversos centros de pesquisa da Embrapa, instituições públicas e cooperativas.

