Polícia
"Paz do Senhor", guerra na Ucrânia e legítima defesa: o depoimento de Albino, Serial Killer de Alagoas
Albino afirmou que Emerson o ameaçou com uma “faca de aço inox” e disse que foi vítima de tentativa de assassinato

O julgamento de Albino Santos de Lima, acusado de ser o serial killer de Alagoas, ganhou contornos ainda mais estarrecedores nesta sexta-feira (11), com o depoimento do próprio réu. Em quase uma hora de fala, Albino intercalou trechos bíblicos, justificativas de legítima defesa, menções à guerra na Ucrânia e alegações de perturbação mental — tudo diante de uma sala lotada no Fórum Desembargador Jairon Lima Fernandes, em Maceió.
Logo no início de seu depoimento, ele cumprimentou a mãe da vítima com um “a paz do Senhor”, antes de afirmar: “Eu conheço a Bíblia de Gênesis a Apocalipse”. A partir daí, passou a narrar sua versão sobre o crime que tirou a vida de Emerson Wagner da Silva e quase vitimou Ruan Vinícius da Silva, sobrevivente do atentado.
Segundo Albino, ele não conhecia Emerson, mas sabia que frequentavam a mesma academia, a HC Fitness, e chegou a elogiar a namorada da vítima, chamando-a de “jovem bonita”. Ele disse que, na noite do crime, estava “todo molhado” e foi seguido por Emerson e Ruan. Alegou ter sido acusado injustamente de tentar forçar a porta da residência da namorada de Emerson, o que teria iniciado a discussão.
Albino afirmou que Emerson o ameaçou com uma “faca de aço inox” e disse que foi vítima de tentativa de assassinato”. Diante da suposta ameaça, disse ter sacado sua pistola da parte frontal direita da cintura e reagido. “Quando ele foi sacar a faca, eu saquei a pistola”, declarou ao júri, completando: “Apontei direto na cabeça, foi legítima defesa. Ele ia me matar”.
O acusado disse que tentou “todos os meios legais para evitar a confusão”, mas que “o povo não conhece a verdade”. Ao ser questionado sobre a quantidade de disparos, respondeu com contradições: inicialmente falou em “cinco ou seis tiros”, depois disse que foram apenas dois. No entanto, admitiu que, após a vítima cair, ainda atirou mais uma vez na cabeça para “certificar que ela seria morta”.
Em outro momento do depoimento, chamou o sobrevivente Ruan de “covarde” por ter corrido, e afirmou que tentou atingi-lo nas pernas. Também declarou que Emerson seria “réu confesso de praticar em facção criminosa”, algo que não foi comprovado no processo.
A fala de Albino surpreendeu ainda mais quando o réu disse que seu sonho era lutar na guerra da Ucrânia. “Gosto de guerra, queria ser voluntário na Ucrânia”, afirmou. O irmão de Albino, ouvido anteriormente, também confirmou que o acusado dizia desejar ir ao front do conflito internacional.
Ao ser confrontado pela acusação sobre as imagens de lápides encontradas em seu celular, Albino disse estar passando por um “distúrbio” e enfrentava um quadro de depressão à época.
O julgamento segue com o depoimento de outras testemunhas e a sustentação da acusação, feita pelo promotor Thiago Riff, que enquadra o crime como homicídio duplamente qualificado e tentativa de homicídio. Albino está preso desde setembro de 2024 e é investigado por pelo menos 18 assassinatos, tendo confessado participação em oito.
Enquanto isso, familiares, estudantes e curiosos lotam o plenário, acompanhando de perto o desfecho de um dos casos criminais mais perturbadores da história recente de Alagoas.
